terça-feira, 12 de junho de 2012
domingo, 10 de junho de 2012
Dia de Portugal
O Dia de Portugal é o dia em que se assinala a morte de Luís Vaz de Camões, a 10 de Junho de 1580.
Pela grandeza da sua obra Os Lusíadas, que enaltece as aventuras heróicas dos nossos antepassados, e pela projecção dada à Língua Portuguesa, o Poeta é considerado um dos símbolos da Nação.
Clica aqui e fica a saber mais sobre Luís de Camões!
O 10 de Junho foi institucionalizado como o Dia de Portugal em 1924, durante a vigência do Estado Novo. E até ao 25 de Abril de 1974 era chamado o Dia de Camões, de Portugal e da Raça, dia dedicado, em plena guerra colonial, à memória dos soldados mortos em combate.
Hoje o 10 de Junho é denominado o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
(Alguns) símbolos do nosso país:
Pela grandeza da sua obra Os Lusíadas, que enaltece as aventuras heróicas dos nossos antepassados, e pela projecção dada à Língua Portuguesa, o Poeta é considerado um dos símbolos da Nação.
Clica aqui e fica a saber mais sobre Luís de Camões!
O 10 de Junho foi institucionalizado como o Dia de Portugal em 1924, durante a vigência do Estado Novo. E até ao 25 de Abril de 1974 era chamado o Dia de Camões, de Portugal e da Raça, dia dedicado, em plena guerra colonial, à memória dos soldados mortos em combate.
Hoje o 10 de Junho é denominado o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
(Alguns) símbolos do nosso país:
O Hino Nacional: A Portuguesa
Dia Mundial dos Oceanos
Mar sonoro
"Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho.
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim."
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho.
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim."
Sophia de Mello Breyner Andresen
No dia 8 de Junho comemorou-se
o Dia Mundial dos Oceanos.
Os descobridores portugueses abriram caminho "por mares nunca dantes navegados".
sexta-feira, 8 de junho de 2012
Amor é fogo que arde sem se ver
Música: Pólo Norte
Poema: Luís de Camões
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Grammatica Rudimentar
Aquelle Manuel do Rego
É rapaz de tanto tino
Que em lirio põe sempre y grego,
E em lyra põe i latino!
E como a gente diz ceia
Escreve sempre ceiar;
Assim como de passeia
Tira o verbo passeiar!
Nunca diz senão peior
Não só por ser mais bonito,
Mas porque achou num auctor
Que deriva de sanskrito.
Escreve razão com s,
E escreve Brasil com z:
Assim elle nos quizesse
Dizer a razão porquê!
Também como diz - eu soube
Julga que eu poude é correcto:
Temo que a morte nos roube
Rapazinho tão discreto!
É um gramático o Rego!
É um purista o finorio...
Se Camões fallava grego,
E o Vieira latinorio!
João de Deus
Que em lirio põe sempre y grego,
E em lyra põe i latino!
E como a gente diz ceia
Escreve sempre ceiar;
Assim como de passeia
Tira o verbo passeiar!
Nunca diz senão peior
Não só por ser mais bonito,
Mas porque achou num auctor
Que deriva de sanskrito.
Escreve razão com s,
E escreve Brasil com z:
Assim elle nos quizesse
Dizer a razão porquê!
Também como diz - eu soube
Julga que eu poude é correcto:
Temo que a morte nos roube
Rapazinho tão discreto!
É um gramático o Rego!
É um purista o finorio...
Se Camões fallava grego,
E o Vieira latinorio!
João de Deus
As ondas quebravam uma a uma
As ondas quebravam uma a uma
Eu estava só na praia com a areia e com a espuma
Do mar que cantava só para mim.
Eu estava só na praia com a areia e com a espuma
Do mar que cantava só para mim.
Sophia de Mello Breyner Andresen
O Universo
Uns dizem que é aberto
outros que é fechado
outros ainda que é plano
outros que é fechado
outros ainda que é plano
Cada um consoante o seu desejo
Para mim o universo
tem a forma de um beijo.
tem a forma de um beijo.
Jorge Sousa Braga
Boletim meteorológico
Céu muito nublado vento
fraco moderado de sudoeste
soprando forte nas terras
altas aguaceiros em especial
altas aguaceiros em especial
nas regiões do Norte e Centro
e que serão de neve nos
e que serão de neve nos
pontos mais altos da Serra
da Estrela e no teu coração.
da Estrela e no teu coração.
Jorge de Sousa Braga
É assim, a música
A música é assim: pergunta,
insiste na demorada interrogação
– sobre o amor?, o mundo?, a vida?
Não sabemos, e nunca
nunca o saberemos.
Como se nada dissesse vai
afinal dizendo tudo.
Assim: fluindo, ardendo até ser
fulguração – por fim
o branco silêncio do deserto.
Antes porém, como sílaba trémula,
volta a romper, ferir,
acariciar a mais longínqua das estrelas.
Eugénio de Andrade
– sobre o amor?, o mundo?, a vida?
Não sabemos, e nunca
nunca o saberemos.
Como se nada dissesse vai
afinal dizendo tudo.
Assim: fluindo, ardendo até ser
fulguração – por fim
o branco silêncio do deserto.
Antes porém, como sílaba trémula,
volta a romper, ferir,
acariciar a mais longínqua das estrelas.
Eugénio de Andrade
Pedra filosofal
Música: Manuel Freire
Poema: António Gedeão
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
No comboio descendente
Música: José Afonso
Poema: Fernando Pessoa
No comboio descendente
Vinha tudo à gargalhada.
Uns por verem rir os outros
E outros sem ser por nada.
No comboio descendente
De Queluz à Cruz Quebrada...
No comboio descendente
Vinham todos à janela,
Uns calados para os outros
E os outros a dar-lhes trela.
No comboio descendente
De Cruz Quebrada a Palmela...
No comboio descendente
Mas que grande reinação!
Uns dormindo, outros com sono,
E outros nem sim nem não.
No comboio descendente
De Palmela a Portimão.
Vinha tudo à gargalhada.
Uns por verem rir os outros
E outros sem ser por nada.
No comboio descendente
De Queluz à Cruz Quebrada...
No comboio descendente
Vinham todos à janela,
Uns calados para os outros
E os outros a dar-lhes trela.
No comboio descendente
De Cruz Quebrada a Palmela...
No comboio descendente
Mas que grande reinação!
Uns dormindo, outros com sono,
E outros nem sim nem não.
No comboio descendente
De Palmela a Portimão.
quarta-feira, 6 de junho de 2012
Um poema
Não tenhas medo, ouve:
É um poema
Um misto de oração e de feitiço...
Sem qualquer compromisso,
Ouve-o atentamente,
De coração lavado.
Poderás decorá-lo
E rezá-lo
Ao deitar,
Ao levantar,
Ou nas restantes horas de tristeza
Na segura certeza
De que mal não te faz.
E pode acontecer que te dê paz...
Miguel Torga
Perdidamente (Ser Poeta)
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
Florbela Espanca
sexta-feira, 1 de junho de 2012
segunda-feira, 28 de maio de 2012
sexta-feira, 25 de maio de 2012
Dia de África
"O Dia de África assinala-se, hoje, 25 de Maio, em homenagem ao 48.º aniversário da criação, em Adis Abeba (Etiópia), da Organização de Unidade Africana (OUA), em carta assinada por 32 estados africanos já independentes na altura.
O objectivo que norteou a criação da OUA, no dia 25 de Maio de 1963, foi a aceleração do fim da colonização do continente.
A carta de criação da que é, actualmente, a União Africana (UA) constitui, até os nossos dias, o maior compromisso político dos líderes africanos, porquanto dessa reunião, nasceu a OUA.
Pela importância desse momento, o 25 de Maio foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1972, Dia da Libertação de África.
A criação da OUA traduziu a vontade dos africanos de se converterem num corpo único, capaz de responder, de forma organizada e solidária, aos múltiplos desafios com que se defrontam para reunir as condições necessárias à construção do futuro dos filhos de África.
O sonho de uma África livre, desenvolvida e próspera obteve novo formato quando, a 12 Julho de 2002, em Durban, o último presidente da OUA, o sul-africano Thabo Mbeki, proclamou solenemente a dissolução da organização e o nascimento da União Africana. O objectivo foi a necessidade de fazer face aos desafios com que o continente se defronta, perante as mudanças sociais, económicas e políticas que se operam no mundo. Contudo, assim como antes, a meta é uma só: “uma África unida e forte”, capaz de concretizar os sonhos de “liberdade, igualdade, justiça e dignidade”.
Outro objectivo principal da UA é a unidade e a solidariedade entre os países e povos de África, defender a soberania, a integridade territorial e a independência dos seus Estados membros e acelerar a integração política e socioeconómica do continente, para realizar o sonho dos “pioneiros”, que, em 1963, criaram a OUA.
[...]
A comemoração do Dia de África a 25 de Maio é para lembrar o ponto de partida, a trajectória e o que resta para se chegar a um continente onde valerá sempre a pena viver e construir um futuro.
África tem aproximadamente 30,27 milhões de quilómetros quadrados de terra. Basicamente agrário, é o segundo continente mais populoso do Mundo (depois da Ásia) e o seu PIB (Produto Interno Bruto) corresponde a apenas um por cento do produto mundial."
África tem aproximadamente 30,27 milhões de quilómetros quadrados de terra. Basicamente agrário, é o segundo continente mais populoso do Mundo (depois da Ásia) e o seu PIB (Produto Interno Bruto) corresponde a apenas um por cento do produto mundial."
Fonte: Inforpress
Convidamos-te agora a ouvir um pouco de música deste grande e belo continente. Malaika é um dos maiores sucessos de uma das cantoras africanas mais conhecidas em todo o mundo - Miriam Makeba. De nacionalidade sul-africana, Miriam Makeba foi um símbolo internacional da luta contra a segregação racial e era comummente denominada "Mamã África".
sábado, 5 de maio de 2012
Dia da Língua Portuguesa e da Cultura nos Países Lusófonos
Assinala-se hoje, dia 5 de Maio, o Dia da Língua Portuguesa e da Cultura nos Países Lusófonos, data que foi instituída a 20 de julho de 2009, por resolução da XIV Reunião Ordinária do Conselho de Ministros da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa), realizada na Cidade da Praia, Cabo Verde.
O documento da CPLP justifica a comemoração deste dia pelo facto de a língua portuguesa constituir, entre os povos da comunidade, «um vínculo histórico e um património comum resultantes de uma convivência multissecular que deve ser valorizada».
Declara ainda que a língua portuguesa é um «meio privilegiado de difusão da criação cultural entre os povos que falam português e de projecção internacional dos seus valores culturais, numa perspectiva aberta e universalista» e, «no plano mundial, fundamento de uma actuação conjunta cada vez mais significativa e influente».
É língua materna dos habitantes de Portugal e do Brasil e de parte significativa das populações de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, países que a têm como língua oficial.
O Português é também falado nos antigos territórios de Goa e Macau.
Como língua materna ou segunda é falada pelos membros das várias comunidades de emigrantes, com um número significativo, na Europa (França, Alemanha e Luxemburgo), América do Norte (Canadá e Estados Unidos), América do Sul (Venezuela) e África (África do Sul), num total de cerca de quatro milhões e meio de locutores.
Este dia comemora-se um pouco por todo o mundo. Vê como... Clica na imagem!
Excerto do filme Língua - Vidas em Português (2002), de Victor Lopes:
sexta-feira, 4 de maio de 2012
Lenda do Senhor Jesus das Chagas - Sesimbra
«No séc. XVI houve uma revolta contra a igreja católica. Nessa altura a rainha mandou encaixotar todas as imagens que estavam nas igrejas e deitá-las ao mar.
Arrastados pelas correntes os caixotes foram levados mar fora e foram ter aos sítios mais diversos. Um deles veio ter à praia de Sesimbra.
Estavam alguns pescadores à beira mar quando viram aquele caixote a boiar junto à pedra que fica do lado nascente da fortaleza.
Trouxeram-no para a praia, abriram-no e viram uma imagem de Jesus Cristo. Ficaram muito admirados sem saberem o que fazer com ela.
Pensaram um pouco e trouxeram-no para o terreiro da Misericórdia, onde hoje em dia é o jardim, mas não tinham sítio onde o colocar. A imagem não ia ficar no chão, nem à chuva nem ao vento, por isso resolveram levantar uma tenda e fingir que aquilo era uma pequena capela, pois um dia far-se-ia uma a sério.
(imagem retirada daqui) |
Todos repararam que faltava um braço à imagem, mas também sabiam que no caixote não estava. E a imagem continuou assim na pequena capela improvisada onde toda a gente ia venerá-la. Ora era costume, e ainda hoje há quem o faça, ir à praia buscar lenha para levarem para a lareira. Naquele dia, uma velhinha apanhava uns pequenos troncos na praia. Ao chegar a casa colocou os troncos no braseiro e sentou-se ali ao pé para se aquecer.
Começou a reparar que toda a madeira ardia menos aquele tronco mais grosso. A ele nem o lume chegava perto.
Intrigada pegou nele e mirou-o com atenção. Viu, então, que aquele pedaço de madeira tinha a forma de um braço.
Correu até à capela, mostrou-o ao padre e concluíram que aquele tronco especial era realmente o braço da imagem do Senhor Jesus.
Todos gritaram “milagre”, prometeram fazer todos os anos uma festa em honra do Senhor e mandaram edificar a capela da Misericórdia onde fizeram um altar para colocar a imagem do Senhor Jesus das Chagas.
Todos os anos no dia 4 de Maio faz-se uma procissão que atravessa as ruas da vila de Sesimbra e que no largo da Marinha abençoa o mar para que este nunca falte com o peixe que era, até há poucos ano, o principal sustento das gentes de Sesimbra.”
segunda-feira, 30 de abril de 2012
quinta-feira, 19 de abril de 2012
sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
quando for a minha vez de ir ao mar
quando for a minha vez de ir ao mar
devolvam-me da infância
as andorinhas
as conchas e
as marés
os búzios, as
canas de pesca, as
tardes
e a
nudez
tragam a leveza que inaugurava a
praia e a
manhã
a mão que escondia o
sol e acenava ao
pássaro branco.
a secreta ânsia de espreitar a tarde
a expressão de repouso no olhar.
Ondjaki
devolvam-me da infância
as andorinhas
as conchas e
as marés
os búzios, as
canas de pesca, as
tardes
e a
nudez
tragam a leveza que inaugurava a
praia e a
manhã
a mão que escondia o
sol e acenava ao
pássaro branco.
a secreta ânsia de espreitar a tarde
a expressão de repouso no olhar.
Ondjaki
As mãos
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
Para vivenciar nadas
borboleta é um ser irrequieto.
para vestes usa pólen.
tem um cheiro colorido
e babas de amizade.
descola por ventos
e facilmente aterriza em sonhos.
borboleta tem correspondência directa
com a palavra alma.
para existir usa liberdades.
desconhece o som da tristeza
embora saiba afogá-la.
usa com afinidades
o palco da natureza.
nega maquilhagens isentas
de materiais cósmicos. como digo:
pó-de-lua, lápis solar
castanho-raiz, cinzento-nuvem.
borboleta dispõe de intimidades
com arcos íris
a ponto de cócegas mútuas.
para beijar amigos e vidas ela usa olhos.
borboleta é um ser
de misteriosos nadas.
Ondjaki
para vestes usa pólen.
tem um cheiro colorido
e babas de amizade.
descola por ventos
e facilmente aterriza em sonhos.
borboleta tem correspondência directa
com a palavra alma.
para existir usa liberdades.
desconhece o som da tristeza
embora saiba afogá-la.
usa com afinidades
o palco da natureza.
nega maquilhagens isentas
de materiais cósmicos. como digo:
pó-de-lua, lápis solar
castanho-raiz, cinzento-nuvem.
borboleta dispõe de intimidades
com arcos íris
a ponto de cócegas mútuas.
para beijar amigos e vidas ela usa olhos.
borboleta é um ser
de misteriosos nadas.
Ondjaki
segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
As muitas visitas da Avó Catarina
Na escuridão da varanda, esperando os pequenos ragos de luz a que chamávamos de cinema bu*, a Madalena dizia de vez em quando« a Avó Catarina já está aí...»
Assustados, criávamos em nós um suspense que caracterizava as sessões de cinema bú. Sem ninguém saber, nem a própria Madalena, mesmo ao nosso lado, a Avó Catarina estava de facto lá.
Dedicado portanto à Madalena que partilhou a nossa infância, e a nossa Avó Catarina. Dedicado aos «primos». A todos.
Dedicado portanto à Madalena que partilhou a nossa infância, e a nossa Avó Catarina. Dedicado aos «primos». A todos.
* cinema bu: se não houver falta de luz, se não houver uma varanda com arvoredo por detrás, se não houver um muro onde se sentem crianças criativas, se os carros não passarem provocando sombras na parede da varanda...então, não há cinema bu.
Dizem também que os mortos são melhores visitadores que os vivos. Talvez porque em vida visitar é coisa miúda, que se pode realizar a qualquer momento. Só que no isolamento da morte as coisas não são assim tão simples. As companhias escasseiam e nem sempre são escolhidas. Às vezes são impostas. Por isso é que os mortos, dizem, são melhores visitadores que os vivos.
A Avó Catarina ainda demorou um bocado para nos visitar. Parecia que se estava a acomodar ao novo mundo dela, ou que ainda não tinha vontade de visitar este mundo. Talvez fosse isso. Porque o amor deste mundo, tem duas facetas muito fortes: ou chama os mortos com vontade, ou afasta-os para sempre. Nunca ninguém deste lado chegou a falar nisso. Limitávamo-nos a deixá-la chegar, falar e voltar a partir. Tantas vezes que deixámos de achar anormais as suas visitas. Porque, na verdade, aquilo não era estranho. E alguém acha estranha uma presença quotidiana? Mesmo que seja de um morto. Se aparece todos os dias, passamos a tratá-lo e a encará-lo como mais uma presença de todos os nossos dias.
Às vezes também aparecia de tarde. Ainda estávamos a jogar às escondidas e lá vinha ela dar-nos uma dica, uma altura própria para correr, ou para estar quieto. Isso foi no princípio, lá está, para qeu não nos assustássemos com as suas visitas de morta. Ganhou-nos a confiança e depois foi aparecendo todos os dias. Já não era uma presença estranha. Se não aparecia, o que era raro, perguntávamos por ela como alguém que esperamos sempre que apareça. Às vezes punhámo-nos a gritar por ela. Depois a Avó Nhé ralhava connosco porque «não se chamam os mortos». Só que na hora da brincadeira e principalmente na hora de contar ou inventar estórias, sentiamos sempre a falta da Avó Catarina. Anos mais tarde descobrimos porquê que ela não aparecia nas alturas de contar estórias: seretamente, durante anos e anos, sussurrava a um ou a outro uma pequena estória para contar e ouvir. Era a Avó Catarina que as contava.
Um dia, depois de dormirmos a sesta, ou antes de a terminarmos, acordámos com os berros da Avó Nhé. Descemos, descalços, mal acordados, assustados com os gritos. «Assim a Avó escorregou na varanda.», alguém pôs a hipótese. « Não...» Disse outro mais previdente, «... é a Avo Catarina que esteve aí». Terminadas as escadas e as breves suposições, encontrámos a Avó Nhé no cadeirão da sala, não sei bem se a chorar ou se simplesmente a descontrolar-se. «Não pode ser» dizia, «não pode ser!» E vimo-la olhar para nós como quem olha para anjos salvadores. Aproximámo-nos dela e sentámo-nos no que restava de espaço no pequeno cadeirão. Aliás nunca percebi porquê que o chamavam de cadeirão...
«Ai meus netos... a Avó Catarina estava mesmo aqui ao meu lado..» disse com ar assombrado. Como se as nossas caras não mudassem no sentido em que ela esperava, e como se ela visse nos nosso olhos e nos nossos sorrisos uma cumplicidade de idade avançada, perguntou de maneira ingénua mas certeira : «Vocês já tinham visto a Avó Catarina por ai?...» Nós, criançadamente, rimo-nos devagarinho. Era como se ela nos perguntasse se já tínhamos visto o sol. «Mas depois de morrer, já a tinham visto?» perguntou, incrédula. Criançadamente, em tom de primos que têm segredos em comum, voltámos a rir. Foi a mais velha que falou «A Avó Catarina aparece todos os dias...» disse com cara de quem não mente.
Vimos então, sem espanto, a Avó Catarina sentar-se na cadeira velha que tinha sido sua. A Avó Nhé quis começar a chorar de novo, mas vendo-nos todos ir ter com a Avá Catarina sem receio, e até mesmo com aquele ar de miúdos que cumprimentam um mais velho que acaba de chegar, guardou o seu chorozinho para mais tarde. Quando ia começar uma conversa que a Avó Catarina não queria ter, a mesma conversa de sempre, aquela que os mais velhos gostam de ter com os mortos, cheia de perguntas que os mortos não podem responder, a Avó Catarina cortou-lhe a fala levantando-se e dizendo « Vou lá acima… acho que deixei a janela aberta...»
A Avó Catarina continuava psicologicamente intacta. Tão vivente de dois mundos como sempre tinha sido em vida. A mania das janelas e portas abertas ou fechadas, não tinha sido apaziguada pelos ventos da morte. Pelo contrário. Agora podia subir e descer quantas vezes quisesse sem sofrer as moléstias do cansaço. Muitas vezes, enquanto contava estórias através de um de nós, víamo-nos atrapalhados quando ela sumia por instantes para ir fechar alguma janela. Era nessas alturas que as estórias perdiam algum nexo pois esse nexo tinha que ser inventado na ausência do murmúrio da Avó.
Mas a Avó Nhé logo se habituou. Conversava connosco sobre tais visitas contínuas e percebemos, hoje, que aquilo não passava de uma curiosidade irresistível, da sua parte, de saber tudo o que a Avó Catarina nos contava. Coisas, disse ela mais tarde, que nunca lhe tinha contado. Sentia-se um pouco magoada por saber de coisas tão importantes que ela, Avó Catarina, nos contava e que nunca lhe tinha dado a conhecer. Sem perceber, a Avó Nhé caiu na armadilha da sua irmã: nós os miúdos, os que julgávamos compreender todas as estórias que a Avó Catarina contava, erámos os seus intermediários para com esse mundo. Embora ela também visitasse a Avó Nhé de vez em quando, era a nós que ela tinha total acesso. Era em nós que ela podia gravar coisas. Estórias. Dizeres. Verdades. Inacreditáveis verdades, até para nós, que diariamente conversávamos com uma Avó morta!
Inevitavelmente, fomos crescendo. Uns, os primeiros, mais à frente que outros, deixaram simplesmente de acreditar na Avó Catarina, nas suas estórias, em tudo o que tinham gravado na memória. À medida que iam crescendo, os mais velhos iam sistematicamente duvidando de tudo o que sabiam, o que tinham visto, escutado, vivido. Tal como a Avó Nhé se esqueceu de tudo o que estava ligado à Avó Catarina, até porque esta deixou, com o tempo, de ir aparecendo, também nós as crianças, com o tempo, deixámos de vê-la. Eu fui o último a estar com ela.
Via dolorosamente que os primos já não a viam. Já não criam nem conseguiam crer na sua presença de todos os dias. Tal como a Avó Nhé, cresceram e deixaram de estar com ela. Cortaram-lhe o acesso. Anos antes, aproveitando-se de nosso poder de contágio, a Avó Catarina visitou durante meses a sua irmã - a Avó Nhé. Esse período começou com o doa em que descemos as escadas quando ouvimos o berro da Avó Nhé. Despois, a sua presença voltou a ser um exclusivo nosso, das crianças, dos primos, dos netos. Pouco antes da prima mais velha deixar de acreditar na Avó Catarina, vivemos um período de riqueza da tradição oral. Diariamente, abdicando dos seus intermediários provisórios, ou seja, nós próprios, a Avó Catarina contou-nos (em directo) estórias magnificas de um mundo que está tão perto de nós no dia - a - dia, que nem chegamos a vê-lo. Ela dividiu as nossas memórias, preparou-nos um a um, para anos mais tarde cada um de nós se lembrar da parte que lhe coubesse. Foram tempos de intensa passagem de testemunhos vivenciais que a Avó Catarina não permitia que o tempo engolisse. Defendendo-se como podia dessas mordidelas da morte, cultivou então nas nossas memórias as mais belas, as mais puras, as mais típicas estórias das gentes e dos mundos que ela tinha conhecido. Verdadeiramente empenhada em enganar a morte, esqueceu-se de nos preparar para enfrentar o tempo e a idade. Foram essencialmente eles que nos levaram a maior parte dos incríveis mundos que a Avó Catarina nos tinha entregado.
Quando a prima mais velha deixou de ser criança, arrastando consigo os seguintes primos que inevitavelmente se dirigiam para a frente também, eu fiquei, por pouco tempo, esquecido do comboio dos adultos. Foi quando a Avó Catarina, gasta, cansada, se lembrou dos seus inimigos mais fortes: tempo e a (minha) idade. Impingiu-me então à toda força, mundos e mundos de estórias que não cabiam na minha cabecinha. Aliás, era pouco provável que coubessem, pois o meu caminho também já estava minado pelos meus primos. Já não me era permitido falar com ou da Avó Catarina, pois já mais ninguém podia estar com ela. Deu-se então uma enorme batalha: por um lado, a família dos adultos que me queria arrastar para o mundo deles. Por outro, a metafórmica criatividade da Avó Catarina que, não me querendo reter na infância, precisava apenas de conversar um pouco de infância na minha mente para que, no terreno fértil das mentes infantis, pudesse plantar e ver brotar os mundos que ela pretendia negar à morte.
Só porque eram muitos mais, os adultos venceram. Numa despedida dolorosa, vi nas sombras escuras da varanda, a Avó Catarina contar-me as últimas estórias. Senti-a minar profundamente a minha memória. Gastar, naquele momento último, todas as sias forças para enterrar profundamente recordações que nem a idade nem o tempo nem os adultos me poderiam arrancar: precisamente estas.
Estávamos sentados na varanda a ver cinema bu. Era o cinema mais barato e mais imaginário que conhecíamos. Acontecia quando faltava luz. Íamos para a varanda e virávamo-nos para a parede. De longe, os carros que passavam injectavam na noite o poder luminoso dos seus faróis. Esses jactos de luz partiam do carro, passavam pelo arvoredo do jardim da nossa casa e projectavam sombras na parede. Essas sombras era a alma do cinema bu. A interpretação era nossa. Foi nesse cinema barato, carente de muita imaginação, que vi pela última vez a Avó Catarina. Ainda disse qualquer coisa aos outros, mas estavam demasiadamente entretidos com um filme de bang bang.
Já sem sermos crianças, quando por vezes na diversidade da vida uma parede, um carro, e algumas sombras provocam um momento de cinema bu, todos nós, primos, as crianças, os netos, encontramo-nos com a Avó Catarina. Ocorre então uma coisa engraçada: apercebemo-nos de que ela ainda tem o poder de nos contar estórias. Nós é que temos a mania de chamar a essas estórias, cinema bu.
Ondjaki, Momentos De Aqui
Os óculos da Charlita
Todas as filhas do sr. Tuarles viam muito mal. Durante o dia, como havia luz do sol, não se notava tanto, mas a partir das cinco e meia da tarde todas elas recusavam jogar «escondidas» porque tinham medo de não encontrar nenhum dos escondidos.
Perto das cinco era hora do lanche. A avó Agnette - ou a tia Maria - vinha até à varanda e gritava o nome de um de nós. Alguém berrava «abuçoitos» e o jogo sofria esse intervalo de irmos beber chá aguado ou comer meia banana com pão. As filhas do sr. Tuarles não lanchavam. Ficavam no muro da casa delas à espera. Se demorássemos muito já não queriam continuar nenhum jogo.
A Charlita era a única que tinha uns óculos muito grossos, muito amarelos e muito feios. Elas eram cinco - as filhas do sr. Tuarles. A Charlita além de ser a dona dos óculos era também a única que já tinha ido a Portugal com o próprio sr. Tuarles, numa deslocação que tinha dado muito que falar na Praia do Bispo.
Depois do lanche o sol ia embora de repentemente. Os soviéticos abandonavam a obra do Mausoléu e nós ficávamos ali, no muro que dividia a casa da avó Agnette da casa do sr. Tuarles. Passavam também muitos trabalhadores angolanos. Depois passava o camião com uma torneira atrás a jorrar bué de água para acabar com a poeira. A Praia do Bispo era um bairro cheio de camiões: passava esse camião da água, o camião-cisterna que vinha pôr gasolina na bomba, o camião do lixo e o camião do fumo dos mosquitos. Todos esses camiões davam alegria e tinham uma música própria que nós gritávamos enquanto corríamos atrás deles.
A noite chegava. A conversa no muro aquecia. Dois ou três ficavam a estigar, os outros riam só. O Paulinho contava filmes do Bruce Lee, do Trinitá e dos ninjas enquanto, num outro muro, atrás da trepadeira, o Gadinho espreitava a nossa infância de riso e atrevimento. O Gadinho era «testemunha», não podia brincar quase nada nem ir a festas. Nem mesmo receber prendas como um bolo de anos que lhe quisemos só oferecer.
Se entrássemos por alguma razão na sala do sr. Tuarles, encontrávamos todo o mundo com o rabo afundado nuns cadeirões muito grandes e antigos. A mulher do sr. Tuarles. Os filhos rapazes do sr. Tuarles e a mãe da mulher do sr. Tuarles.
As filhas ficavam sentadas perto, muito perto da televisão. Quando digo perto, estou a falar de dois ou três palmos entre a cara delas e o ecrã. De vez em quando o sr. Tuarles gritava para se afastarem para os lados:
— Dêem espaço, porra. Eu também quero ver.
A mulher do sr. Tuarles, a dona Isabel, não dizia nada. A mãe da mulher do sr. Tuarles, a avó Maria, dizia alguma coisa em kimbundu e depois ria. Nós tremíamos.
As filhas passavam os óculos entre elas. Cada uma via dois minutos e os óculos mudavam de rosto. Era bonito de ver. Quando não tinham os óculos na cara, tapavam o rosto quase todo e deixavam um buraquinho apenas, «para ver melhor», diziam. Mas se a novela aquecesse numa parte assim mais entusiasmante, o sr. Tuarles gritava «dêem espaço, porra» e a Charlita, por ser a dona, voltava a pôr os óculos na cara. E ria.
Todas as filhas do sr. Tuarles viam muito mal. Mas a Charlita - que tinha os óculos grossos, amarelos e feios - ria de ser a única da casa que conseguia ver bem as telenovelas e os sorrisos nas bocas nítidas de todas as personagens.
Perto das cinco era hora do lanche. A avó Agnette - ou a tia Maria - vinha até à varanda e gritava o nome de um de nós. Alguém berrava «abuçoitos» e o jogo sofria esse intervalo de irmos beber chá aguado ou comer meia banana com pão. As filhas do sr. Tuarles não lanchavam. Ficavam no muro da casa delas à espera. Se demorássemos muito já não queriam continuar nenhum jogo.
A Charlita era a única que tinha uns óculos muito grossos, muito amarelos e muito feios. Elas eram cinco - as filhas do sr. Tuarles. A Charlita além de ser a dona dos óculos era também a única que já tinha ido a Portugal com o próprio sr. Tuarles, numa deslocação que tinha dado muito que falar na Praia do Bispo.
Depois do lanche o sol ia embora de repentemente. Os soviéticos abandonavam a obra do Mausoléu e nós ficávamos ali, no muro que dividia a casa da avó Agnette da casa do sr. Tuarles. Passavam também muitos trabalhadores angolanos. Depois passava o camião com uma torneira atrás a jorrar bué de água para acabar com a poeira. A Praia do Bispo era um bairro cheio de camiões: passava esse camião da água, o camião-cisterna que vinha pôr gasolina na bomba, o camião do lixo e o camião do fumo dos mosquitos. Todos esses camiões davam alegria e tinham uma música própria que nós gritávamos enquanto corríamos atrás deles.
A noite chegava. A conversa no muro aquecia. Dois ou três ficavam a estigar, os outros riam só. O Paulinho contava filmes do Bruce Lee, do Trinitá e dos ninjas enquanto, num outro muro, atrás da trepadeira, o Gadinho espreitava a nossa infância de riso e atrevimento. O Gadinho era «testemunha», não podia brincar quase nada nem ir a festas. Nem mesmo receber prendas como um bolo de anos que lhe quisemos só oferecer.
Se entrássemos por alguma razão na sala do sr. Tuarles, encontrávamos todo o mundo com o rabo afundado nuns cadeirões muito grandes e antigos. A mulher do sr. Tuarles. Os filhos rapazes do sr. Tuarles e a mãe da mulher do sr. Tuarles.
As filhas ficavam sentadas perto, muito perto da televisão. Quando digo perto, estou a falar de dois ou três palmos entre a cara delas e o ecrã. De vez em quando o sr. Tuarles gritava para se afastarem para os lados:
— Dêem espaço, porra. Eu também quero ver.
A mulher do sr. Tuarles, a dona Isabel, não dizia nada. A mãe da mulher do sr. Tuarles, a avó Maria, dizia alguma coisa em kimbundu e depois ria. Nós tremíamos.
As filhas passavam os óculos entre elas. Cada uma via dois minutos e os óculos mudavam de rosto. Era bonito de ver. Quando não tinham os óculos na cara, tapavam o rosto quase todo e deixavam um buraquinho apenas, «para ver melhor», diziam. Mas se a novela aquecesse numa parte assim mais entusiasmante, o sr. Tuarles gritava «dêem espaço, porra» e a Charlita, por ser a dona, voltava a pôr os óculos na cara. E ria.
Todas as filhas do sr. Tuarles viam muito mal. Mas a Charlita - que tinha os óculos grossos, amarelos e feios - ria de ser a única da casa que conseguia ver bem as telenovelas e os sorrisos nas bocas nítidas de todas as personagens.
Ondjaki, Os Da Minha Rua
domingo, 15 de janeiro de 2012
Ondjaki
Ficcionista e poeta angolano, pseudónimo literário de Ndalu de Almeida, nascido em 1977, em Luanda, dois anos depois da proclamação da Independência do seu país. Nesta cidade viveu a sua infância e adolescência, tendo criado um leque de amizades com pessoas oriundas das mais diversas camadas sociais e formações. Frequentou a escola pública até ao 10.º ano de escolaridade, tendo, então, vindo para Lisboa onde estudou Sociologia.
Amante da leitura desde muito menino, Ondjaki foi criando estofo para penetrar, através de uma leitura cuidadosa, nas obras de autores esteticamente diversificados, como Graciliano Ramos, Sartre, Ionesco e mais tarde, Vargas Llosa e Gabriel Garcia Márquez.
A sua atração pela atividade cultural lançou-o, ainda em Luanda, num curso de mímica que o levou a aprofundar a sua paixão pelo teatro e pela escrita. Assim, integrou, durante dois anos, um grupo de teatro amador e, depois de frequentar um curso livre de teatro, representou uma peça do dramaturgo Eugène Ionesco, O futuro está nos ovos.
Jovem dinâmico e de multifacetas, não se deixou arrastar para o pântano da desilusão e da frustração que a coabitação com uma realidade degradante e corrupta, atentatória dos mais elementares direitos, necessariamente provoca em espíritos esclarecidos e livres. Pelo contrário, consciente desta situação, o autor procurou empenhar-se e envolver-se nas iniciativas culturais que se realizam em Luanda, tendo sido um dos responsáveis por várias criações, de que é exemplo a revista Nganza Times, criada em 1993. Revista cómico-satírica, Nganza Times conheceu seis números cuja responsabilidade Ondjaki dividiu com os seus colegas de escola.
Já em Lisboa, em 1996, frequenta um curso de escrita criativa, sentindo que o chamamento da ficção se intensifica. Este curso constituiu um patamar fundamental na sua produção, pela importância que "as magias da literatura" adquiriram na sua obra. Esta magia, associada ao seu imaginário nutrido por recorrentes idas a Luanda, permitiu-lhe desenvolver a sua arte de fabulação, começando por escrever pequenas "estórias" e contos.
Em 2000, publicou o seu primeiro livro de contos, intitulado Momentos de Aqui, com o qual concorreu à final do prémio literário PALOP (promovido pelo Fundo Bibliográfico Europeu), realizada em S. Tomé. Esta iniciativa facultou a Ondjaki contactos com outros escritores, nomeadamente com o seu conterrâneo Jacques Arlindo dos Santos, responsável pela editora Chá de Cachinde, que o convidou para participar na coleção Independência. Respondendo a este repto, o autor publicou, em 2001, o livro Bom Dia Camaradas que o consagrou, definitivamente, nos circuitos literários. Com uma linguagem caracterizada pela oralidade, onde os termos locais e geracionais são recorrentes, esta obra é fruto de experiências vivenciadas. Coloca-nos perante um cruzamento entre o tempo do pretérito colonial e o do presente pós-independência, através das certezas e das dúvidas enformadas pelas personagens Camarada António (criado de um diretor português no tempo colonial) e Menino (adolescente que apenas conhece a Luanda libertada).
Ainda em 2000, fez chegar ao prelo um conjunto de oito textos poéticos com o título Palavras Desaguadas, sob a chancela das Edições Pilar e Bianchi Editores, e com o qual concorreu à Antologia Internacional Agua en el Tercer Milénio. No mesmo ano, publicou a prosa poética A Freira, pela mesma editora, e o livro de poesia Actu Sanguíneu, que foi contemplado com uma menção honrosa no Prémio Literário António Jacinto.
Em maio de 2002, o autor editou pela Editorial Caminho a novela O Assobiador e em 2004 Quantas Madrugadas tem a Noite.
Escritor e poeta conhecido e reconhecido nos caminhos literários, Ondjaki tem muitos dos seus títulos publicados em antologias internacionais, nomeadamente brasileiras e uruguaias e na Antologia "Angola - a festa e o luto".
Membro da União de Escritores Angolanos, é também colaborador do órgão cultural angolano "O Chã".
In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-01-15].
terça-feira, 3 de janeiro de 2012
Feliz 2012!
Sísifo
Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.
Miguel Torga
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